terça-feira, 18 de outubro de 2011

Poesia Bucólica

                             
                                      Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)

Sonetos
X
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.
Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:
Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.



Fonte: http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo02.php

Poesia Épica

                        
                                              Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)




Vila Rica
Canto VI
Levados de fervor, que o peito encerra
Vês os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram do metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o erário.
Arzão é este, é Este, o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro:
Vê qual despreza o nobre aventureiro,
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento gentio a fome avara




Fonte:http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo02.php

Sonetos de Bocage

 
Analise  do sonetos
 
 Apenas vi do dia a luz brilhante
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da Pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.

E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
 
 

Poema de Basílio da Gama

                                                                 O Uraguai

                                           
Desenho representando índios guerreiros Sepé Tiaraju
 


Canto IV
(...)

Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co’a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Poema de Santa Rita de Durão

De Camões

Moema (1866), por Victor Meireles


Canto VIXXXVII

Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
XXXVIII
"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
(...)
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.


Fonte: http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo04.php

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O piloto automático dos Críticos Literários

Cristiano Ramos
Ricardo Ramos,redor da prosa


Nada mais irônico: críticos literários têm reclamado muito da mesmice na literatura, da acomodação dos autores às demandas de mercado. Nossa produção literária, no entanto, é de longe menos viciada do que os espaços de resenhas, críticas e ensaios existentes na mídia. Criamos uma absurda fábrica de clichês, dogmas estilísticos sem fundamento e comparações inócuas.


Quem der uma olhada na contracapa do livro Então você quer ser um escritor, de Miguel Sanches Neto, terá mostra bem expressiva. “Sensibilidade na composição de personagens”, “escritor de palavras espessas, bem pensadas, que não se combinam ao acaso”, “autor que opta por uma linguagem de entrelinhas”. E não são textos de orelha, anônimos, são trechos de comentários feitos por profissionais respeitados: Sérgio Amaral Silva, José Onofre e Daniel Piza.


Ainda poderemos chamar de escritor alguém que construa personagens sem sensibilidade? Que não pense a escrita, que combine as palavras por acaso? Que não use uma linguagem de entrelinhas, ou seja, que nada deixe para o leitor corroborar, completar ou até contrariar – isso é possível? E que diabos são palavras espessas? Seriam aquelas carregadas de significados. Sendo assim, faz-se literatura com outras, com tijolos esvaziados, que nada juntem à construção da obra? [...]


Nesta mesma coluna, Redor da Prosa, comentamos assertivas semelhantes, sobre livros de Sidney Rocha, Raimundo Carrero e Ronaldo Correia de Brito: “precisão da linguagem”, onde discutimos o improvável de tal escrita, pois a precisão subentenderia domínio do autor sobre o leitor, engessamento da obra, cristalização dos significados, e outras coisas que não existem em discurso algum, muito menos nos literários; “linguagem seca e afiada”, “de extremo comedimento”, e problematizamos a realidade dessas adjetivações que se tornaram modas das mais visitadas; e o “domínio da narrativa”, essa miragem que só ilude quem não reflete sobre como a literatura pode até ser brevemente constrangida, forçada contra a parede, mas jamais aprisionada, completamente submissa, dominada pelo escritor-feitor. [...]


A literatura e os leitores merecem ser recebidos por anfitriões mais dedicados do que temos sido.


Link: http://www.leiaja.com/coluna/2011/o-piloto-automatico-dos-criticos-literarios

Série – Poesias do Arcadismo

Citarei dois autores que por sinal introduziram o arcadismo no Brasil: Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.



Epístola
(Sílva Alvarenga)
Gênio fecundo e raro, que com polidos versos
A natureza pintas em quadros mil diversos:
Que sabes agradar, e ensinas por seu turno
A língua que convém ao trágico coturno:
Téu Pégaso não voa furioso, e desbocado
A lançar-se das nuvens no mar precipitado,
Nem pisa humilde o pó; mas por um nobre meio
Sente a doirada espora, conhece a mão e o freio:
Tu sabes evitar se um tronco ou jaspe animas,
Do sombrio espanhol os góticos enigmas,
Que inda entre nós abortam alentos dissolutos,
Verdes indgnações, escândalos corruptos
Tu revolves e excitas, conforme as ocasiões
Do humano coração a origem das paixões.

Esse poema fala do estilo literário como um todo e faz uma crítica ao Barroco.



Sonetos
(Cláudio Manuel da Costa)


Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.

Link: http://arcadismo.com/serie-poesias-do-arcadismo/